Quarta-feira, 25 de Junho de 2014

JAMES WINNEFEL Almirante-de-Esquadra Marinha dos EUA

SAUDAÇÕES NAVAIS "O enjoo vem para Todos, o perigo idem , não há retaguarda, todos estão imbuídos da mesma vontade e destino! Tem mesmo de existir união... E, depois, há o " nosso navio"!!! JAMES WINNEFEL Almirante-de-Esquadra Marinha dos EUA Assim como deixou claro o Marechal Montgomery, os marinheiros são diferentes dos seus camaradas da Força Aérea e do Exército. Eles falam uma linguagem própria, fazem perguntas diferentes, dão respostas diferentes, suportam fainas pesadas com alegria e formam um clã especial. Suas vidas são definidas por uma sucessão de comissões e eles formam um intrigante amálgama de tradição. Como podemos perceber a diferença entre os guerreiros das três forças? Por que os marinheiros são tão diferentes? Mesmo aqueles marinheiros que também são pilotos são diferentes de seus colegas da Força Aérea. Também mesmo aqueles marinheiros que também são soldados – e chamados de Fuzileiros Navais - são diferentes de seus camaradas do Exército. As respostas a estas questões têm suas raízes no ambiente no qual vivem e lutam os marinheiros.Isto se aplica para a Marinha de Guerra e na Marinha Mercante com certas modificações pois lá o supremo é o Comandante. O soldado molda seu ambiente alterando seus contornos, explorando o terreno, dominando-o com o poder de fogo, ou, quando tudo mais falha, movimentando-se para outro ambiente. O piloto é um acrobata que desafia a gravidade. O ar é um meio para a liberdade. De sua posição vantajosa acima de seus colegas guerreiros, ele dá grande ênfase na superioridade e no controle. O marinheiro, por outro lado, está constantemente na presença de uma força maior que ele mesmo. Ele sente o tempo através do balanço e do caturro de seu navio. Uma vez no mar, não é uma questão simples voltar para a terra, não há passeios no shopping, não existe energia de terra, não há telefone para saber notícias, não há carteiro diariamente ou jornal para se manter em contato com o mundo, não existe licença para aliviar as tensões de um dia, e nem há a presença nem o conforto da família. O piloto conquista seu ambiente, o marinheiro sobrevive nele. O soldado molda e explora seu ambiente, o marinheiro deve se ajustar a ele. O soldado depende de “armas combinadas”, o marinheiro precisa confiar em si mesmo e no mundo limitado pelo seu navio. O soldado deve avançar ou retrair, o marinheiro deve permanecer e lutar. Em tempos modernos, mesmo a opção de se render está além do alcance dos marinheiros, ele luta e morre com o navio – mesmo se o navio for um casco soçobrado em chamas abaixo de seus pés. Tais forças incutem no marinheiro uma combinação única de qualidade: autoconfiança, respeito e atenção ao seu comandante, e um acentuado senso de responsabilidade. O comandante está na frente de batalha, e não nos quartéis-generais da retaguarda; ele deve enfrentar o inimigo, pois está tão exposto como o mais moderno marinheiro a bordo. Não existe retaguarda para um navio em combate. Almirantes e marinheiros dividem igualmente o risco de enfrentar o fogo inimigo ou a fúria de um temporal, pois estão, literalmente no mesmo barco. Os espaços limitados de um navio de guerra – mesmo de um grande navio – forçam a amizade entre seus tripulantes. Não existe lugar para se esconder. As forças ou as fraquezas são logo descobertas e conhecidas. A capacidade profissional do comandante está a vista à vista de todos, todo dia. Uma atracação malfeita simplesmente não pode ser escondida dos subordinados. Da mesma maneira, um comandante que mostra zelo pelo profissionalismo, que tem especial atenção no trato com os subalternos, sem no entanto deixar de corrigir as falhas que apareçam, é imediatamente considerado um herói para todos. Um marinheiro a bordo não pode deixar de participar das fainas, ao contrário de alguns pilotos que colocam suas aeronaves “indisponíveis” na inspeção pré-vôo. Um marinheiro deve estar preparado para as vicissitudes da natureza e do inimigo, e em conseqüência ele deposita um grande crédito na prontidão e na prudência. Ele se prepara para o improvável e até mesmo para o impossível. Para seus pares de terra e ar, ele se parece muito conservador. Para ele, as coisas importantes simplesmente precisam funcionar, e por isso precisam ser simples. Ele ainda acha que os mastros são apêndices úteis – mesmo após ter passado o tempo da Marinha a Vela – para estender seu horizonte e como lugar para colocar seus equipamentos mais usados. Ele aceitou o cabo de náilon, mas ainda existe um lugar especial no seu coração para o cabo manilha. Aceitou a turbina a gás na propulsão de seus navios, mas guarda ainda um lugar especial para o vapor. Realmente, suas veias parecem estar cheias de vapor; no preparo do rancho, na transformação de água salgada em água doce, para o aquecimento e, em alguns casos, para o lançamento de aeronaves. Quase todos os navios de guerra têm vapor em seus sistemas para o apoio à vida de bordo. Por ser navio uma entidade completa, o marinheiro dá grande importância em moldar suas ações de maneira independente dos outros navios e das bases. Ele se recente quando sofre interferência de terceiros ao lhe dizerem como conduzir duas tarefas, e está feliz quando o único navio, de horizonte a horizonte, é o seu. A presença de um navio mais antigo o impede de ter paz em sua mente, e ele se torna o principal crítico dos erros cometidos pelo navio capitânia. É o seu navio contra o ambiente, o inimigo, ou mesmo contra o navio irmão. Não existe maior competição na terra do que a que ocorre entre navios de um mesmo esquadrão, ou da mesma força-tarefa. Lealdade ao navio e lealdade a sua força são dogmas a serem seguidos. Um soldado certamente terá uma Associação do Batalhão, para que se relembre do passado, mas um marinheiro se lembra apenas do seu navio. Raramente ocorre a um marinheiro formar uma Associação da FT 94 ou uma Associação da Esquadra. Um oficial sempre se lembrará de seu primeiro navio, dos nomes do timoneiro e do vigia de seu quarto de serviço, e das situações que eles enfrentaram no porto ou no mar. Uma das experiências mais gratificantes para o homem do mar é recordar os “ bons tempos”, quando se encontra com antigos companheiros de bordo. Esta experiência vivida pelos marinheiros, ao longo de suas carreiras, gera um senso de lealdade entre as tripulações e com a Marinha que é um elo, sem nada correspondente nas outras Forças. Para o marinheiro, as entidades organizacionais dos soldados e dos pilotos se parecem com uma “ sopa de letras”: os números mudam, as pessoas são transferidas rapidamente e as Unidades não têm um nome ou um número. Já o navio do marinheiro tem um nome e, o que é mais importante, geralmente é um nome lembrando uma passagem vitoriosa da história de seu País ou o nome de algum herói nacional. Os marinheiros valorizam essa conexão com o passado e vêem-se tão capazes como seus antecessores. Mas a tradição não é simplesmente um guia para a ação, é uma forma de lealdade à Força e uma reafirmação do lugar do marinheiro na fila dos heróis. Os costumes e as cerimônias navais reforçam o senso de identidade e de continuidade. Uma passagem de comando, o lançamento de um navio ou o cerimonial à Bandeira Nacional são ocasiões nas quais a comunidade naval expressa a sua confiança e seu apreço pelos homens do mar. As honras ao navio e à sua tripulação são confirmadas na presença de amigos, parentes e colegas de farda. O termo “ conservador” parece ser melhor aplicado aos oficiais de Marinha do que aos de outras forças. Um marinheiro reluta sempre em abandonar o que, no passado, lhe serviu de maneira eficiente. Ainda hoje os oficiais se apresentam aos chefes de departamento, e estes a seus imediatos, antes de baixarem terra. A chegada e a saída do comandante a bordo são cercadas de cerimoniais; içar ou arriar a bandeira substituta, informar ao imediato ou ao oficial de serviço, o qual acompanhará comandante até a câmara. A chegada do comandante da força ou de um almirante a bordo é o bastante para transformar o mais pacato dos navios num frenesi de preparativos, com atenção ao detalhe. Essas cerimônias e tradições parecem estranhas para o soldado, para o piloto e para o civil, mas para o marinheiro são parte da vitalidade de sua experiência profissional; ele sabe o que se espera dele e onde estão depositados a honra e o reconhecimento. Mas o marinheiro também sabe premiar aqueles que sabem combinar tradição com inovação. Ele faz um balanço entre os dois pólos: aqueles que acham que porque é velho é que deve ser bom, e aqueles que pensam que se é novo deve ser melhor. Na verdade, ele confia nas coisas velhas, mas reconhece o valor do novo. O radar, a turbina a gás, o avião, a propulsão nuclear e a comunicação por satélite revolucionaram o mundo no qual ele vive, mas o mar ainda está lá. Os navios são ainda danificados ou afundados pelo mar, navios ainda se chocam em um mar sem sinais de trânsito ou vias expressas. As mesmas características são divididas entre Marinhas. Os marinheiros geralmente têm simpatia por seus colegas estrangeiros. Eles enfrentam os mesmos perigos e respondem aos desafios de maneira semelhante. Eles comungam reverências às tradições e aos costumes da mesma forma, e, em muitos casos, até as fontes das tradições são as mesmas: tradições cultivadas pela Marinha a Vela. Na medida em que ingressamos na era das operações conjuntas e combinadas, os marinheiros terão que fazer alguma concessão aos companheiros das outras forças, porém a natureza única da profissão naval e de seu ambiente peculiar certamente marcarão de forma indelével a forma e o conteúdo dos planejamentos e das operações. Os soldados e os pilotos certamente aprenderão que os aparentemente excêntricos e tradicionais marinheiros são, na verdade, profissionais moldados pela água salgada. “ Onde o espírito não teme, a fronte não se curva”

 
publicado por marinheirojimmy às 20:50
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